Coisa de velho

sábado, 26 de dezembro de 2009

 


No fim do mês passado, o mundo do rock ficou consternado com a notícia de que Ronnie James Dio foi diagnosticado com câncer de estômago. Aos 67 anos, o vocalista já passou por Black Sabbath e Rainbow e ainda viaja o mundo com seus antigos companheiros de Sabbath, agora sob o nome de Heaven and Hell. Mensagens de apoio e presentes chegam de todo mundo desejando melhoras a Dio, uma figura super carismática.

Este triste episódio me fez pensar. O rock envelheceu. O rock está capenga, gordo, careca, já não enxerga bem, além de estar casado e com uma renca de filhos.

No começo do ano realizei um sonho: assisti o Iron Maiden ao vivo. Já faz décadas que lançaram alguns dos clássicos que até hoje não podem faltar nas apresentações e o show, claro, foi fantástico. Mas a sensação é de que não vi uma banda tocando. Vi senhores de cinqüenta e tantos anos trabalhando honestamente para colocar dinheiro dentro de casa. Cada gesto me parecia estudado. Beijos pra torcida depois de marcar um gol, como diria Humberto Gessinger. Jogo ganho antes do primeiro apito. E ano que vem vai fazer 30 anos que lançaram o primeiro disco.

Isso me faz pensar. Em janeiro é o Metallica que vem ao Brasil, depois de dez anos. Hoje muitas das letras são introspectivos acertos de conta com o passado, falando sobre altos e baixos, cicatrizes, pisadas na bola e redenção... Coisa de quem já viveu muito de rock.

Envelhecer é um paradoxo interessante. Já temos uma geração de ícones na terceira idade. O próprio Dio, Ozzy Osbourne, Rolling Stones e Paul McCartney são exemplos que sobreviveram ao tempo e continuam tocando - e lotando arenas de gente que busca a figura mitológica do passado.

É possível que Paul venha ao Brasil em 2010. O que sobrou dele da época dos Beatles? Já viu um show recente dele? Sua voz está engruvinhada, opaca – a voz de um senhorzinho. Não pode oferecer a música que praticava quando entrou para a história do rock.

Temos uma questão de lógica aqui. O rock é um estilo novo, começou na segunda metade da década de 50. Os grandes nomes, os que fizeram os clássicos, estão hoje na faixa dos 50 e 60 anos. Que fã de rock não quer ver Paul McCartney, Ozzy, Alice Cooper, os Stones? Esse caras estão na ativa!

Ok, esses são realmente velhos. Vamos avançar mais umas décadas. Guns N Roses, Iron Maiden, Metallica, AC/DC e mais, Sting, Morrisey? Também estão velhos! O rock envelheceu! Os mesmos caras que fizeram do rock um grito de rebeldia da juventude hoje são pais, avôs.

No rock nacional é a mesma coisa. Raul Seixas não sobreviveu, mas pude constatar que Rita Lee, meu Deus, é a encarnação do puro creme do milho verde do rock’n roll. Os heróis dos anos 80, Paralamas, Titãs, Barão Vermelho, Kid Abelha, todos são tiozões. A música acompanhou a maturidade e hoje ouvimos rock de “gente velha”, não de adolescentes. Dinho Ouro Preto é a exceção, tanto acha que ainda tem 18 anos que agitou tanto até cair do palco.

Mas esses caras mesmo depois de mais de 20 anos continuam fazendo coisas relevantes, continuam tocando o que fizeram antes. Sonífera Ilha não pode faltar num show dos Titãs. Será que fica legal o NX Zero cantando seus sucessos de hoje em 2020? Será que eles vão sobreviver até lá?

É melhor que o Dio sare logo.

Escrito por: Pedro Carlos Leite

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