Passado e presente em 'O Cruzeiro'

sábado, 12 de dezembro de 2009

 

Hoje vivi uma experiência surreal. Percebi a união de passado e presente, avanço da tecnologia, velocidade da informação... foi uma coisa simples, mas caramba, me fez pensar.


Há pouco mais de um ano, um parente meu morreu. Espanhol, pai de meu tio (e padrinho), também espanhol, seu nome era Otavio. Seu apelido familiar: Iaio. Desde pequeno me dizem que "iaio" é um chamamento carinhoso para avô em espanhol. Nunca tive essas confirmação, mas era algo adequado para alguém que já conheci velho. Alguém que faleceu com seus 90 e tantos anos.

O fato é que herdei uma pequena parte do espólio do espanhol. Todos sabem da minha tara por leitura. Quando decidem fazer uma faxina em casa e desentulham as tranqueiras, recebo livros, revistas e coisas de ler que ocupam o espaço dos outros e que acham que eu vou adorar.

Nessa, ganhei um pouco de revistas do Iaio, após sua morte.

No meio das coisas, um tesouro. Um exemplar da revista O Cruzeiro, de 1968, que apesar de não ter mais capa, está em estado mais-que-perfeito de conservação.

Hoje peguei o bicho pra ler. A revista é famosa pelos textos primorosos, referências no jornalismo e de nível difícil de encontrar hoje.

Li uma matéria sobre uma das muitas facções clandestinas da época da ditadura - que estava cada vez mais forte na época em que este número de "O Cruzeiro" foi editado. Só que este não era um grupo de esquerda, e sim organização de extrema direita batizada de CCC (Comando de Caça ao Comunistas).

Escrita em primeira pessoa, a matéria de Pedro Medeiros conta como o repórter se encontrou com membros do grupo, colheu informações entre conversas e conseguiu "montar um fichário com alguns dos terroristas" do CCC. Um dos feitos do bando foi vandalizar os atores da peça "Roda Viva", de Chico Buarque.

Passo o olho na lista de membros do CCC na esperança de encontrar algum nome conhecido. Paro diante de um deles. Na descrição, "um estudante de Direito e locutor da rádio Eldorado". Seu nome: "Boris Cazoi (ou Kassoi)".

Espantado, penso "será? será que é esse mesmo que eu tô pensando?". Corro para o computador, internet banda larga, a 512 kilobytes por segundo para desvendar o mistério criado há 40 anos. Jogo no Google "boris casoy ccc". No topo da lista de resultados, a página de Boris na Wikipedia tem um parágrafo sobre essa história:

Em 1968, em reportagem sobre líderes estudantis, a revista O Cruzeiro acusou-o de ter participado do grupo CCC (Comando de Caça aos Comunistas), que combatia comunistas durante as décadas de 1960 e 1970. Boris nega esta acusação até hoje e afirma não haver provas que comprovem sua suposta participação no CCC. Vinte anos depois, disse a respeito do episódio que tinha consciência do "quanto a imprensa pode estigmatizar alguém. Eu senti isso na carne. E não esqueço.

O segundo site da pesquisa é um veículo de esquerda que acusa Bóris de ser fundador do CCC e "manchar a integridade revolucionária e a imagem das Farc".

Esse episódio me fez refletir que o que vai para o papel é eterno, seja para selar uma verdade ou como prova perpétua de uma mentira.

Pensei também em como a internet é um banco de informações tão vasto quanto a experiência humana ao longo da história. Basta um pouco de digitação para reunir material que levaria muito tempo de garimpagem sem este recurso.

É curioso pensar no caminho que esta revista fez até chegar às minhas mãos. Depois de ficar anos esquecida em baú qualquer do velho espanhol ela vem inteira para mim... Será que após dois meses de publicada ela teria algum valor? Se tivessem achado, seria forro de gaiola de passarinho, banheiro de cachorro ou iria para o lixo..... Mas com quarenta anos de envelhecimento o mesmo material ganha valor histórico e cultural único.

Estou lendo a biografia de Assis Chateaubriand escrita por Fernando Morais , "Chatô, o Rei do Brasil". Chatô era dono dos Diário Associados, conglomerado de comunicação que abrangia centenas de veículos Brasil afora, inclusive a "O Cruzeiro". Foi algo como o priemiro Roberto Marinho. E logo nessa me cai na mão essa "O Cruzeiro".

Quanto mais for possível usar a internet como ferramenta de pesquisa, conciliando papel e bits, melhor será...

Escrito por : Pedro Carlos Leite

1 comentários:

none disse...

Retribuindo a visita.

Muito bom seu blogue. Vc é iperoense?

[]s,

Roberto Takata