Tiozinho do Picolé

domingo, 6 de dezembro de 2009

 












Não há quem more em Iperó/SP e não conheça o Tiozinho do Picolé, empresário, artista e heroi dos sorvetes. Saiba um pouco mais sobre ele.



Tiozinho do Picolé, a alegria em pessoa

“Todo mundo qué/ todo mundo qué/ ficar numa boa/ chupando um bom picolé!”. Muita gente sai de casa catando moedas e espera na beira da calçada quando ouve uma voz rouca, mas firme, cantando versos sobre as maravilhas do sorvete de palito. Um senhor magro dobra a esquina empurrando seu carrinho e logo é rodeado por crianças, mães, rapazes, e quem mais esteja a fim de refrescar o calor com sabores que vão do limão básico ao Skimo, com sua cobertura um tanto borrachuda de chocolate.

Em Iperó não há quem não conheça o Tiozinho do Picolé, 67 anos, que mais que um sorveteiro, é um personagem folclórico. Percorre a cidade entoando suas músicas, quase “cantigas publicitárias”, num conjunto de jaleco e boné brancos bordados com seu apelido (“minha filha Márcia que me deu”, faz questão de dizer) e o carrinho incrementado onde se lê o slogan inacreditável “tem prá home, tem prá muié, só não chupa quem não qué”!

“O problema de andar na rua o tempo todo é que às vezes não tem banheiro. Eu não gosto de mijar na rua. Sou conhecido né? Não quero que os outros pensem que eu tô ruim”. E é verdade. Depois de vender quatro picolés para dois velhos fregueses, Tiozinho pede atenção e, sem graça, cochicha no ouvido de um, feito criança insegura. Recebe sorriso e tapinha nas costas. Então o homem do picolé entra pela sala. Da calçada, o dono do banheiro dá o toque: “Terceira porta à esquerda!”

A estrela dos sorvetes em Iperó entrou no ramo há dezessete anos, após se aposentar como metalúrgico na Mercedes-Benz, onde trabalhava de preparador e operador de máquinas especiais. Nascido na capital, tinha casa em Iperó desde 1985. Não queria ficar em casa e arranjou um carrinho de sorvetes - “porque é um negócio que já tá pronto, não tem que ficar montando, que nem o cachorro-quente”. Foi assim que Eduardo Carlson Gagliardi se tornou o Tiozinho do Picolé.

Os fartos cabelos brancos e o bigode fino que compõem a figura esguia não negam a origem sueca do guerreiro. Ele trabalha todos os dias, sempre no período da tarde.”Os novos de hoje não fazem nem metade do que eu faço, do que eu ando”, se orgulha o Tio. E o senhorzinho parece incansável. Toma água oferecida pelos clientes, seja em casas, em oficinas mecânicas ou no comércio. “Já teve dia em que vendi 130 reais de sorvete”, conta Tiozinho. Cada picolé sai por 80 centavos, e dificilmente sobra algum quando ele volta para casa no fim do dia. Aí a estratégia é promover os bombons gelados – sorvetes de massa cobertos de chocolate – que custam R$3,00. Marqueteiro, no fim da tarde lá vai o Tiozinho cantando: “Não fique na mão/Não fique na mão/Cabô os picolé/Mas eu tenho os bombom”.

Com cerca de 25 mil habitantes, Iperó tem na avenida Paulo Antunes Moreira seu epicentro comercial. Quando Tiozinho chega na principal passarela da cidade, a anunciação vai na frente: “de bem ca vida/de bem ca vida/ é o picolé que tá chegando na avenida”! Não há quem não simpatize com o Tiozinho quando ele passa. Os jovens abrem um sorriso malandro com o “só não chupa quem não qué”. O fato é que o Tiozinho inspira pureza e uma certa inocência com a sua espontaneidade. Foram estes mesmos jovens que levaram o Tio para a internet. Sua comunidade no orkut já tem mais de 700 membros, embora ele só tenha uma vaga noção do que isso seja. “Deve ser uma coisa especial né?”

Sim. Tão especial que chamou a atenção de uma TV regional, que veio a Iperó fazer uma reportagem sobre o Tiozinho. O carrinho que pesava muito, feinho, foi reformado. O piloto ganhou uniforme, banquinho portátil, guarda-sol e pintura personalizada no carrinho, que recebeu materiais mais leves. Se ele era conhecido, agora que se tornou famoso vende mais sorvete. A vocação para comunicador vai levar o Tio a espalhar simpatia pela região. “Uma sorveteria de Boituva me chamou para ser papai noel no Natal, vamos ver se vai dar certo né?”.
As músicas para vender o produto não vieram logo de cara. No começo, ele chamava a atenção do modo tradicional, com uma buzina. “Mas ela quebrava muito, então eu resolvi chamar o povo na garganta mesmo”, explica. Durante o inverno, seu Eduardo pendura o jaleco e vive de bicos. Vende rifas, latinhas de alumínio e tem disposição para pegar na enxada e carpir. Mas ele sabe bem qual é a paixão. “Eu amo o que faço. Não fico parado, gosto de sair cantando”.

“Tô gostando dessa pesquisa que você tá fazendo comigo. Agora fala pra mim, sou campeão ou não sou?”. É, Tiozinho. Na cabeça, impossível pensar em outra definição. Nos lábios, mais um sorriso.
Escrito por Pedro Carlos Leite

















4 comentários:

Unknown disse...

Seo Eduardo, ou Tiozinho do Picolé, eu conheço ele como o pai da Marcinha, minha amiga. Figura que raramente vc vê triste, sempre com um sorriso largo no rosto.

Sou suspeito para falar dele, mas uma pesonalidade impar, que não busca fama, apenas continuar o seu trabalho e não ficar em uma praça jogando dominó.

O legal é ve-lo depois que ele tomá umas cervejinhas, e começa o preocesso de criação de seus jingles publicitário. Isso quando ele me vê e pará para cantar as músicas, para saber se elas estão boas. Quem sou eu? Ele têm o talento nato para isso.

Anselmo Del Vigna
Publicitário
Chefe de Divisão de Imprensa e Comunicação da Câmara de Iperó
Membro da Academia de Letras de Iperó

Unknown disse...

muito bom o texto. sou mais um que considera mais interessante o perfil de um anonimo q de um famoso. abs

Anônimo disse...

Muito bom seu blog, gostei! Agradeço pela visita e comentário ao meu. O tipo de história, de cidadãos comuns, é bem do que eu gosto. Como diz Ruy Castro, o maior e melhor biógrafo do Brasil: "Toda história dá uma pauta". E vc fez isso. Abraços!

Anônimo disse...

É por essas e outras que eu tenho uma vontade louca de sair de São Paulo. rs

Albino,
www.retratosdaterra.blogspot.com