O Fim

domingo, 15 de março de 2009

 

Dizem que perto do fim todo medo vai embora.

Isso é a maior mentira que eu já ouvi na vida. É nisso que eu penso enquanto seguro essa faca e olho para a janela da casa dela. Fico aqui morrendo de medo de usar essa arma, ou pior ainda de não ter coragem de usá-la e deixá-la lá ardendo em chamas nos braços de outro.

Esse pensamento me dá náuseas, só de pensar o que ela deve estar dizendo no ouvido dele, todas aquelas promessas que já foram minhas todos os “eu te amo” sussurrados no escuro, todas as caricias e abraços. Não posso aguentar a dor de saber que neste exato momento são outras mãos que a tocam, outros ouvidos escutam o arfar da sua respiração e calor do seu corpo.

E agora perto do fim eu só sinto medo, medo e uma náusea dilacerante que faz meu estômago se contorcer.

Vai começar a chover em alguns minutos e ai vai ser  hora de atacar, estocadas firmes, sem remorso ou desespero, sem medo. Não sem medo não vai dar, maldito mentiroso que disse que perto do fim todo medo se esvai.

Começa a chover forte. Agora chegou a hora. Atravesso a rua sem pressa, sinto as gotas de chuva molhar o meu cabelo.

Chego ao portão, o mesmo portão onde demos nosso primeiro beijo, o mesmo portão onde tomamos chuva no mesmo momento do beijo. Engraçado que tenha começado tão feliz na chuva e vá terminar de forma tão triste na chuva.

Se pensar bem o nosso relacionamento sempre teve chuva, em todos os momentos bons dele choveu. Nosso primeiro beijo, o jeito como ela olhava para o céu em dias de tempestade e eu olhava para ela ai parada nua na janela, sentindo os pingos no rosto e nos seios. Como adorávamos fazer amor na chuva.

E quantas vezes fizemos as pazes na chuva.

Acho que chuva era nossa amiga, e talvez a chuva tenha vindo para resolver isso, para que eu mude de idéia. E talvez ela tenha razão.

Parado aqui no portão, completamente molhado pela minha amiga chuva, pensando nela e em como eu pensei que poderia destruir algo tão belo.

Viro  as costas e vou embora, no caminho jogo faca em um matagal e continuo seguindo com a chuva a me guiar. E não sinto mais medo, por que agora talvez o fim tenha chegado.

1 comentários:

Hynx disse...

The end has no end...

CARALHO ESSE VISUAL COM COMENTARIO EM CIMA ME DEIXOU CONFUSO =P